domingo, março 15, 2009

UMA OUTRA MANEIRA

Tive que me afastar da realidade do Sporting quase três anos para poder encarar algumas coisas de uma forma mais racional.

Há poucos anos era bem capaz de achar que a violência pode resolver todos os problemas, mas não pode. Resolverá alguns, se calhar nem os mais importantes, mas é um caminho que a prazo chegará ao seu fim sem ter prestado um serviço de real valia à causa do Sporting.

Que não se pense no entanto que considero os sportinguistas que no jogo de sábado mostraram o seu desagrado latente como elementos violentos, porque sei bem que, como tudo na vida, nem tudo é o que aparenta ser.

A realidade dos factos, com esperas no aeroporto, estádio e academia, com escritos nas paredes desta ultima, ou em atitudes no jogo de ontem, será sempre apenas uma:

Não houve registo oficial de violência exercida pelos contestatários em nenhum dos momentos. Existem alguns relatos que carecem de suporte, que afirmam que no aeroporto os adeptos que viajavam com a equipa foram ameaçados. Não tenho como confirmar a situação, nem sei que tipo de ameaças houve (se algumas), e se chegaram mesmo a existir agressões, presumo que não.

O que é verdade, e indesmentível, é que existe uma franja de adeptos, dos mais participativos normalmente, que empregam na contestação legitima a energia que habitualmente também aplicam no apoio ao Sporting, em Alvalade e por todo o lado onde o clube se desloca.

Será que existe um risco elevado de que determinados comportamentos resvalem para atitudes mais violentas? Acho que sim, e aqui os órgãos dirigentes do clube deviam ter uma palavra a dizer (lá irei, é questão para outro post).

Mas o que também é real neste momento é que a violência, a efectivamente exercida, partiu em primeiro lugar das forças policiais e de alguns adeptos defensores, presumo, do actual status vigente. Os primeiros extravasando claramente as suas funções, algo que será motivo de queixa crime, pelo menos da parte do movimento LdV. Os segundos por acção, na retirada de uma das faixas que apareceram depois do intervalo, e nos insultos que lançaram para o grupo da ICS que manifestava o seu desagrado.

Ora aqui chegados devo assumir que não gosto, embora no passado tenha encarreirado por essa via, de ver apontados como "carneiros" ou "cornos mansos" os sportinguistas que defendem Filipe Soares Franco, a sua estratégia e até a sua visão para o futuro do Sporting ("um clube sem sócios, com adeptos que não se intrometam na gestão"). Cá estou hoje em dia para defender o direito que têm de tomar a sua opção, mesmo que seja radicalmente diferente da minha.

Mas considero também que, da mesma forma, todos os que contestam quer a actualidade do futebol do Sporting, quer de forma mais ampla as figuras e o planeado pela direcção para o futuro têm também todo o direito de se expressar, desde que não ultrapassem as regras éticas e legais impostas pela vivência em sociedade.

Já hoje vieram a lume aqui, informações acerca do porquê de uma intervenção policial tão desproporcional ao que se estava efectivamente a passar. O que acontece é que toda a justificação entra em contraditório aqui, o que demonstra que alguma coisa não bate certo nesta questão.

Ressalvo também a posição do presidente do Sporting, que no domingo se expressou de forma critica relativamente à pintura das paredes da academia, mas que não encontrou palavras para comentar a intervenção policial nas bancadas de Alvalade nem a expulsão do estádio de quem não incorreu em nenhum acto passível de ser considerado violento ou que apelasse à violência, sendo sócio do clube.

Parece-me mais que claro que para Filipe Soares Franco os sócios do Sporting não são património do clube.