terça-feira, setembro 19, 2006

Opções de entertenimento – Futebol Vs. Cinema

De há alguns anos a esta parte tem vindo a emergir uma realidade que para muitos é não apenas desejável como inevitável de forma a fazer evoluir o futebol como uma industria mais da área do entertenimento.

No caso do Sporting o maior apologista dessa corrente é o actual presidente, ao defender que o clube deveria não apenas ser gerido como uma empresa, mas também funcionar como uma, sem ingerência de associados, com as decisões a serem tomadas por uma administração que represente os investidores no tal mercado tão atractivo do “futebol-espectáculo”, preparado de forma a atrair um público quanto mais heterogéneo melhor e que esteja disposto a gastar uma verba importante em troca de hora e meia de entertenimento.

Não tenciono comentar neste post a aparente incoerência (e muita hipocrisia) que resulta no facto de se querer enveredar por um modelo de negócio radicalmente diferente, mas mantendo os traços que mais importam para o seu sucesso financeiro (a ligação emocional entre um clube e os seus adeptos).

No fundo o que está em causa é saber até que ponto o pretenso “futebol-espectáculo” estaria em condições de competir com outra industria de entertenimento como o cinema, podendo tomar como exemplo o ultimo jogo em Alvalade.

Imagine-se o vosso amigo Desgraçado, adepto de nenhum clube em especial, posto perante o dilema:

- Ir a Alvalade ver o Sporting-Paços de Ferreira, pagando 25€ pela entrada e mais uns trocados para gasolina e portagem.

- Ir ao cinema do bairro ver o Piratas das Caraíbas – O cofre do homem morto, pagando 5€ pela entrada.

Agora imagine-se que o vosso amigo Desgraçado tem familia e portanto a obrigação de gerir o orçamento familiar de acordo com esse facto.

Além disso, enquanto que na ida ao cinema pode avaliar antecipadamente a qualidade do produto e espera, com uma certeza de 95%, que o trabalho das estrelas seja bom, na ida ao futebol a percentagem de assistir a um bom trabalho das estrelas estará mais próximo dos 50%, sendo que, óbviamente, se torna impossivel prever a qualidade do espectáculo.

Agora junte-se a incerteza quanto à segurança da familia e a certeza de que a filharada sairá do estádio com um maior conhecimento do mais básico vernáculo português, que repetirão à primeira oportunidade, na escola, durante a visita dos sogros, enfim, em situações sociais comprometedoras para os progenitores.

Perante este quadro, resta colocar as questões:

- Pode, no contexto apresentado, a industria do futebol competir com outras industrias concorrentes?

- Estão os dirigentes do futebol (os mesmos que são arguidos em casos de corrupção) cientes desta realidade, ou simplesmente não se interessam com isso, desde que por enquanto forem obtendo os seus dividendos pessoais?