quinta-feira, novembro 17, 2005

Um Presidente para o Sporting

Há poucos dias José Roquette afirmava que as alterações introduzidas "obrigavam" a figura máxima de Alvalade a ter determinado perfil, porque as necessidades de gestão, nomeadamente na área financeira do Clube, exigiam alguém que se "responsabilizasse" pelos acordos com as entidades financeiras que suportam neste momento o Sporting.

Eu estou em completo desacordo com esta perspectiva.

Desde logo porque uma das principais razões apresentadas aos Sportinguistas para que fosse escolhido este caminho da chamada profissionalização da gestão, em oposição ao antigo método da Direcção Mecenas, era precisamente para acabar com o tipo de gestão de mercearia, onde as decisões estão "penduradas" pela vontade de uma pessoa.

Ora neste momento, em que os mais altos dirigentes do Sporting (Dias da Cunha e Filipe Soares Franco) tiveram de avançar com o seu crédito perante os bancos, de forma a salvaguardar e tornar possivel a renegociação e aprovação do "renovado" Project Finance, em que sentido diferem os métodos de gestão dos utilizados no passado?

Não é o próprio Roquette que afirma que o perfil (raio de palavra que entrou no dicionário Sporting, juntamente com "activos" para definir os putos que dão uns pontapés na bola com algum jeito) de um Presidente deve ter em consideração o facto de o Sporting, enquanto SGPS, ser responsável por um universo empresarial importante?

Porquê? Deverá mesmo ser o Presidente a responsabilizar-se por essa vertente, ao ponto de, como acontece há já mais de 10 anos, a prioridade no Clube serem os números em vez dos Sportinguistas?

Pessoalmente acho que não.

Se o modelo de gestão do Clube evoluiu para aquilo que conhecemos hoje e que os actuais dirigentes e bastantes Sportinguistas (felizmente cada vez menos) entendem ser a 8ª maravilha ao cimo da terra, porque razão é que, ao contrário do que acontece no mundo verdadeiramente profissional, os gestores nunca são responsabilizados pelas suas opções de gestão?

Por estarmos a falar de futebol e a actividade estar sujeita a imponderáveis? Como a bola que vai ao poste ou o jogador que não rende?

Então e o director de uma discográfica, sabe o que os putos vão curtir daqui a uma semana, ou se os velhadas da minha idade vão continuar a curtir Metal ou se viram para a musica clássica?

Não são eles postos á prova todos os dias, em função de imponderáveis semelhantes, assumindo a responsabilidade das suas estratégias?

No momento em que a opção foi pelo caminho da profissionalização, as responsabilidades do Presidente em todas as matérias, sejam elas desportivas ou financeiras, deveriam ter-se reduzido ao minimo indispensável, reservando-se a sua actuação para a motivação e representação do "Ser" Sporting, enquanto ideal daquilo que queremos para o Clube, baseado numa mentalidade que respeite os valores tradicionais do Sporting transportados para o contexto actual.

Em minha opinião o Presidente do Sporting não pode pronunciar-se constantemente acerca do trabalho do treinador, dos jogadores, das arbitragens ou deste tipo de assuntos que, por mais importantes que sejam, são responsabilidade da organização que está montada no Clube.

Quando o Presidente do Sporting fala de arbitragens é para ser ouvido, respeitado e para que as suas sugestões sejam estudadas e levadas a sério. Isso não é possivel se o homem se lembrar de dizer que a regra do fora de jogo foi alterada, unicamente com o fim de desculpar um lance indevido a nosso favor ou uma exibição merdosa da equipa, especialmente se o fizer fim de semana sim, fim de semana sim.

Da mesma forma que não pode, perante um descalabro da equipa de futebol, depois de um jogo onde ninguém trabalhou, vir dizer para a imprensa que ficou muito satisfeito. Ele está lá a representar os Sportinguistas e não em defesa do administrador beltrano ou sicrano. E nem sequer se aplicam as regras do apoio institucional, uma vez que do administrador, passando pelos técnicos e acabando nos jogadores, estarmos a falar de assalariados do Clube, que são pagos (espera-se que a tempo e horas, claro) principescamente para apresentarem trabalho e conseguirem resultados... todos eles, sem excepção.

Aquilo que um Presidente do Sporting deve fazer nessas alturas é defender os Sportinguistas em primeiro lugar, que pagam bem para receber um serviço de merda.

Em matéria de discurso, quando o Presidente do Sporting fala os burros devem baixar as orelhas em respeito e as suas afirmações serem aceites como verdade universal, sem possibilidade de critica. E quem o fizer tem de levar na tromba.

Ora isso não se alcança se o homem estiver sempre a falar sobre tudo o que é assunto, sobretudo se não perceber daquilo que fala, o que tem sido o caso de há muitos anos a esta parte.

No fundo aquilo que eu peço a um Presidente do Sporting é que seja acima de tudo um adepto do Clube, responsável concerteza, mas de uma forma emocional e motivadora. Que faça a gestão das equipas de trabalho e não dos processos. Deixe os gestores fazer o trabalho para o qual são (muito bem) pagos.

E que não chame energúmenos aos Sportinguistas, nem que vá para a tribuna de honra de Alvalade de pullover vermelho!!