Reprodução de um texto meu originalmente publicado no Fórum SCP.
Ora então vamos lá descascar isto [comunicado de 1 de Março de 2006 publicado no "site"]:
Pontos que eu acho positivos (poucos mas existem):
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"penso conseguir formalizar, dentro de poucos dias, o acordo de cedência de exploração do Bingo a um terceiro, ficando o Sporting, no futuro, com uma receita garantida consoante o volume de vendas que o Bingo conseguir ter".Tenho alguma reservas porque não sei se a cedência é temporária ou definitiva, mas o princípio de que, sendo os gestores do Sporting incompetentes para gerir uma actividade lucrativa que, essa sim, não está umbilicalmente ligada ao clube, mais vale entregá-la a terceiros mantendo uma parte dos lucros.
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"o projecto também vai passar pela alienação de 27 por cento das acções da SAD". Com essa alienação, o Sporting pode assegurar uma mais valia de cerca de cinco milhões de euros. O que se vai negociar com os dois bancos financiadores é agarrar em cerca de 1,5 a 2,5 milhões dessas mais valias e investir num pavilhão. De facto, se o Sporting quiser ser eclético, tem que ter um pavilhão. Só o pavilhão permite que os sócios e adeptos vivam com paixão essas modalidades. Vai permitir a implementação de modelos de operação assentes na formação do futsal, andebol e atletismo. Podemos propor-nos ter novas modalidades, que possam captar adeptos para o Sporting.”Eu ouço isto e ouço um quarteto inteiro de violinos a tocar. :) Ele que apresente esta proposta isoladamente (já nem peço para me dizer que novas modalidades ele quer implementar) e eu voto a favor e aplaudo de pé. Mas isto parece-me uma cenoura abanada à frente dos sócios, que será retirada à primeira oportunidade sobre um qualquer pretexto (que tal um déficezito de tesouraria "inesperado"? ).
Vamos à trampa que por lá abunda (a maior parte, como seria de prever):
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"O Sporting tem um património total que deve valer à volta dos 320 milhões de euros, incluindo o plantel, que está avaliado em qualquer coisa como 60 milhões de euros"Vendidos um por um, juniores incluídos, não estou a ver o Sporting obter 60 milhões de euros por todos os jogadores profissionais. Negociando com as calças na mão, muito menos.
Quanto ao Estádio e à Academia, valem se calhar bastante menos que os terrenos onde estão implantadas, pois as possibilidades de construção nos terrenos serão limitadas (a menos que haja novas negociatas com a Administração Central e / ou Local) e ainda é preciso deitar abaixo o que lá está. Gostava de saber como é que isto está contabilizado.
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"Entre Abril e Maio do ano passado, depois de um ano e meio de negociação com os dois bancos que são financiadores do Sporting – Millennium BCP e BES – o Sporting estabeleceu um acordo com eles de reestruturação da sua dívida, que passava por um conjunto de obrigações, das quais vou enumerar as cinco mais importantes: Alienar dois patrimónios, ou dois equipamentos, não desportivos: A Sede e o Alvaláxia. Consta na cláusula 30 de um acordo: ‘Alienar o centro comercial Alvaláxia em termos que permitam ao mutuário receber a título definitivo o montante líquido mínimo de cinco milhões de euros até ao dia 30 de Junho de 2006, ou caso tal não aconteça proceder ao encerramento total e definitivo do dito centro comercial Alvaláxia até à mesma data – 30 de Junho de 2006’. O Segundo ponto da mesma cláusula diz: ‘alienar o Edifício Sede em termos que permita ao mutuário receber a título definitivo o montante líquido mínimo de 13 milhões de euros, até ao dia 31 de Julho de 2005’."Ou seja, o Sporting comprometeu-se com os Bancos a alienar o Edifício Sede, quando tal só poderia ser feito com a aprovação de 2/3 dos votos dos sócios em AG. Quanto à Alvaláxia, é verdade que não foi tão radical: se os sócios não aprovassem, fechava-se, e assim se respeitavam os Estatutos. Lindo. Os apoiantes de FSF nem vão sentir cócegas ao ler isto...
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"Terceiro compromisso: Alienar activos desportivos, ou seja, passes de jogadores, com a obtenção de mais valias no mínimo de cinco milhões de euros. Ou seja, com isto não fazqualquer investimento em passes de jogadores, a menos que realize mais valias em passes superiores a cinco milhões e meio de euros" Parece-me um objectivo válido. O que implica no final desta época vender... Liedson, não estou a ver outro jeito. - "saldo de investimento de 1,2 milhões de euros. Investimos 9,2 milhões de euros no Edson, Manoel, Deivid, Labharte, Luís Loureiro, Tonel, Wender e João Alves. Portanto, temos um saldo final negativo de 8 milhões de euros."
Tradução: alguns compromissos com os bancos são para cumprir, aos outros podem limpar-se-lhe o rabo. Depende das conveniências.
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"Além disso, por manifesta infelicidade, o Sporting ficou fora das competições europeias, o que traz um decréscimo de receitas na ordem dos quatro milhões de euros"Quem numa planificação financeira anual (não em média pluri-anual) incorpora com certeza quatro milhões de euros de receitas das competições europeias, é burro, incompetente e irresponsável. Para já não falar das habituais desculpas quando as coisas correm melhor, que "as contas estão mal porque tivemos de pagar prémios de jogos, deslocações, etc".
- Prejuízos:
"Andebol, 350 mil euros, futsal, 140 mil euros, atletismo, 120 mil euros, jornal, 100 mil euros, multidesportivo, 190 mil euros e do Bingo 630 mil euros"!Ficamos então a saber que o Sporting consegue a proeza de ter o multidesportivo, que alberga algumas das maiores fontes de receitas de entre as modalidades amadoras (natação, ginástica e actividades relacionadas e artes marciais) a dar prejuízo! Viva a gestão "à Sporting"! Isto também deve ser culpa do Bin Laden...
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"se o Sporting vender não só este património imobiliário que referi, mas para além disso, o Holmesplace e a Clínica CUF, vai conseguir realizar mais valias à volta de 25 milhões de euros. Se fizermos 25 milhões de euros de mais valias na alienação do património não desportivo e imobiliário, temos garantido quatro a cinco anos das mais valias que os bancos nos exigiram"Isto será assim tão líquido? As mais-valias terão de ser (julgo eu) contabilizadas no ano da venda. Como é que nesse caso os bancos vão aceitar que, para efeitos do acordo no que toca ao investimento sobre a equipa, essas mais-valias sejam repartidas por 4 anos? Cheira-me a embuste...
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"Portanto, é possível renegociar com os bancos financiadores, no sentido de nos autorizarem a mantermos os nossos talentos, não vender o maior património que o Sporting no meu entender tem, que é o património desportivo, que é os seus atletas. Em vez de vender os atletas, vende o património não desportivo, que é o edifício administrativo e o centro comercial. Isto vai permitir ao Sporting conservar os seus talentos mais tempo, não ter que fazer tantas contratações, ter uma equipa mais coesa e competitiva, vai permitir ao Sporting que os adeptos tenham maior aderência com os atletas e com a equipa, Vai permitir que o Sporting, no futebol, possa ser um verdadeiro clube europeu"Declaração óptima para por papalvos com a língua de fora. É por ficar 2 ou 3 anos com o Moutinho e o Nani que o Sporting vai passar a competir com o Manchester, o Barcelona e a Juventus? Bem-aventurados os crédulos. O Sporting será previsivelmente nas próximas décadas um clube periférico a nível europeu. E deveria assumir essa condição, reduzir os salários e sobretudo as diferenças salariais entre os jogadores mais novos e os da cantera e os mais cotados da equipa. Mas opta-se precisamente pela via inversa, esperando um "ciclo virtuoso" de mais investimento - mais receitas - mais títulos - mais investimento"... que vai quebrar-se ou poderá nunca se realizar, e para o qual se arranjarão sempre desculpas, pois "sabem, houve mais receitas mas as despesas também aumentaram". "Total bullshit".
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"O terceiro eixo é que tudo isto vai permitir um Sporting mais sustentado, porque cobrimos o défice de tesouraria que temos e cumprimos totalmente com as nossas obrigações. Ao reduzir os encargos financeiros anuais com o pagamento de juros, amortizando passivo, vamos melhorar a operação do Sporting, que passa de um conjunto de empresas que têm sido ciclicamente deficitárias, para um conjunto de empresas que vão ser, seguramente, rentáveis"Roquette e seus acólitos, sob diversas guisas, já andam a prometer amanhãs que cantam há mais de 10 anos. Quem quiser acreditar que estes incompetentes que nos governaram até aqui vão de repente tornar-se em brilhantes gestores, esteja à vontade. Este esclarecimento teve o mérito de tornar mais claras as intenções de FSF. E quanto mais elas se tornam claras, mais firme (e hirta) se torna a minha decisão de lhe fazer um grande manguito.
Cabe agora à oposição denunciar as mistificações aqui presentes e avançar com propostas alternativas realistas. Fico a aguardar.